sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Francorail série 5000 encerra as atividades

16/11/2012 CPTM em Foco

Série 5000 na estação Júlio Prestes
Por Diego Silva

Após 34 anos de uso, chega ao fim a operação comercial da série 5000 em São Paulo. Os trens franceses, que sempre circularam na Linha 8-Diamante (com breves passagens na Linha 9-Esmeralda), encerram sua participação na história ferroviária paulista de maneira decadente: mais da metade da frota sucateada, sem peças de reposição, com a manutenção falida e sem créditos. Uma série de sucessivos erros trouxe o fim desse trens, que se tivessem sido melhor cuidados, teriam uma vida útil ainda maior. Para os usuários da Linha 8, que já contam com vinte e duas novas composições com ar-condicionado (porém, com quatro carros a menos que os franceses), não fará grande diferença. Em conforto, ambas as frotas se equivalem. O que as difere hoje é a tecnologia e a praticidade. Como singela homenagem à frota que transportou duas gerações na zona oeste de São Paulo, vamos relembrar toda a história desse trem, que é o último da geração Fepasa metropolitano.

Carro motor em fabricação

Trens no pátio da Cobrasma

O serviço de passageiros exigia cada vez mais oferta de lugares. Ciente disso, a então Fepasa preparou a compra de 50 unidades de 6 carros, baseadas em aço inox, para melhorar a oferta do serviço prestado na época. O contrato foi firmado juntamente com a francesa Francorail e sua representante brasileira, a Cobrasma. Assim, começa a história dos trens franceses UI 9000 (unidade inox, série 9000, antiga forma de numeração da Fepasa). Um trem que foi exclusivamente projetado para circular na principal linha da Fepasa.


UI 9000 da Fepasa, ainda na França. Notem as janelas lacradas.
As primeiras unidades dos trens franceses chegaram ao Brasil em 1977. O lote francês contempla 20 unidades, que já vieram montados e prontos para operação. Os trens restantes foram construídos na fábrica da Cobrasma, localizada em Osasco. Uma imagem bastante curiosa que foi descoberta há tempos atrás mostra uma unidade em testes na estação de Rincão, que pertencia a então EFSJ (Estrada de Ferro Santos a Jundiaí).


Francorail na estação de Rincão, realizando testes
Com isso, a entrega dos primeiros vinte trens ocorreu no aniversário da cidade de São Paulo. A Fepasa fez um marketing na época, para promover a entrega de seus novos trens. Uma das propagandas, veiculadas no jornal 'O Estado de São Paulo', pode ser vista abaixo:




Propaganda da Fepasa, veiculada em revista

Matéria da revista Veja, sobre os novos trens da Fepasa

Desembarque de passageiros na estação Júlio Prestes

Imagem que ficará na memória de muitos: Belga e Francês em Presidente Altino

Já em 1980, todos os trens estavam em circulação pela linha principal da Fepasa, ligando Júlio Prestes à Itapevi. O serviço era um dos mais bem avaliados pela população paulista, pois a Fepasa sempre foi lembrada pela consideração que tinha com seus clientes. Mas a vida desses trens da então frota 9000 não foi das mais fáceis. Alguns acidentes, eu diria, inexplicáveis, aconteceram. Um deles, foi justamente em 1980, quando uma composição avançou um sinal e colidiu com outra, nas proximidades da estação Barra Funda. O resultado:


Acidente em Barra Funda, 29/12/1980.
Dessa década para frente, acidentes envolvendo esses trens passaram a ser um pouco comuns. Grande parte deles estão marcados por conta das passagens de nível, encontradas ao longo do trecho. Podemos citar como exemplo, as passagens de nível em Quitaúna e Engenheiro Cardoso. Um problema para os usuários sempre foi a ventilação dos carros, nunca privilegiada. A princípio, a Fepasa iria instalar ar-condicionado nessa frota, mas uma mudança no projeto fez com que alguns trens viessem com janelas lacradas. Após algum tempo, foi possível ver algumas composições dessa série atendendo escalas no então ramal de Jurubatuba (atual Linha 9-Esmeralda). No ramal, as composições rodavam com seis carros. (na linha principal, rodavam com seus atuais 12 carros, sendo por alguns anos, o maior trem metropolitano em operação do mundo, estando presente até mesmo no Guiness Book).


UI 9000 na estação Luz - Atendia trecho entre Luz e Carapicuíba

Durante muito tempo, achavam que se tratava de uma lenda a Fepasa na estação Luz
Nesse tempo, a Fepasa começou uma alteração em seu patrimônio de material rodante. Com isso, os então UI 9000 passaram a ser UI 5000. Similarmente nessa época, foi possível ver algumas unidades da série 5000 estacionados na estação Luz: começava ali um serviço expresso da Fepasa, ligando o centro de São Paulo até a cidade de Carapicuíba. Em discussões ferroviárias, muitos achavam que se tratava de uma lenda, mas recentemente, imagens foram disponibilizadas na grande rede, comprovando a presença desses trens na famosa estação. O tempo foi passando, acidentes acontecendo, pouco a pouco a frota 5000 foi se perdendo...


Colisão com caminhão - Acidentes frequentes

Estação Júlio Prestes, com unidade francesa estacionada
Em 1992, nascia a Companhia Paulista de Trens Metropolitanos, incorporando as linhas da CBTU em São Paulo (atuais linhas 7, 10, 11 e 12). Em 1994, a CPTM assume o controle operacional da Fepasa, ou seja, passa a operar os trens das séries 4800 e 5000. Somente em 1996, com a privatização das ferrovias paulistas (e também brasileiras), acaba a história da lendária Fepasa, com a CPTM assumindo o total controle das, agora, linhas B e C. A primeira providência da nova companhia foi recuperar algumas unidades da série 5000, aplicando aos trens, o novo padrão de identificação visual:


Trem série 5000 em Presidente Altino - Novo padrão visual, da nova companhia
De 1996 para cá, caros leitores, a CPTM apenas deu prosseguimento ao serviço dos trens série 5000. Em 1999, algumas poucas unidades receberam revisão geral, ganhando também o novo padrão metropolitano, adotado pelas empresa ainda em 1998. Mas ainda hoje é possível encontrar composições que estão rodando sem ter passado por revisão geral, ou seja, estão rodando desde os tempos de Fepasa sem ter tido qualquer revisão mais aprofundada. Constatamos que algumas composições já estão beirando a marca de 5 milhões de quilometros rodados (a política da Companhia, em tese, seria de realizar revisão geral a cada milhão de quilometros). Uma razão pode ser comprovada: ausência de peças. Como o trem é baseado na França, é muito difícil encontrar peças de reposição para tal frota, sendo necessário baixar algumas composições para realizar o que chamamos de 'canibalismo' (retirar peças de um trem para repor em outro). Nessa história, atualmente temos apenas 13 trens operacionais (ou 26 trens de 6 carros).


Unidade revisada, na estação de Osasco
Em 2010, a CPTM anunciou a compra de 36 novos trens, para substituição dos trens da série 5000. A nova frota, numerada como 'série 8000', possui trens de oito carros com passagem livre entre todos os carros (open gangway), ar-condicionado e tudo o que há de mais moderno no mercado ferroviário internacional. As novas composições já estão em circulação, atendendo escalas na Linha 8-Diamante. Com isso, pelo menos metade da frota operacional 5000 não está circulando. Até 2013, todos os novos trens estarão em operação, encerrando assim, o ciclo da série 5000 em São Paulo.



Dados técnicos
Construído por: CCTU (Consórcio Construtor de Trens Unidade, com empresas como Francorail, Brown Boveri, Joerlikon, Cobrasma, entre outras).

Comprimento
Carro motor: 19,8 m
Carro reboque: 19,5m

Peso
Carro motor: 50 t
Carro reboque: 32 t
Carro reboque (R1): 29 t

Passageiros sentados
Carro motor: 56
Carros reboque: 64

Altura
Pantógrafo levantado: 6,5 m
Pantógrafo abaixado: 4,9 m

Largura
Com estribo: 3,300 m
Sem estribo: 3,028m

Controle de Tração: Chopper
Motores: 4, ligados em série (por unidade)



Diego Silva às 14:00
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3 comentários:

Diego Sousa16 de novembro de 2012 14:44
Olha que fato curioso a referida Estação de Rincão na verdade é no interior Paulista antiga linha principal da Companhia Paulista que seguia até Colômbia passando por Barretos, a cidade com o mesmo nome fica depois de Araraquara é incrível como a Fepasa foi realizar testes por lá a quase 300 km essa foto realmente é rara

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Márcio16 de novembro de 2012 14:48
É UMA PENA ESSES TRENS SAÍREM DE CENA EU CHEGUEI A ANDAR MUITO NESSES TRENS,POIS O QUE DEVERIA SER FEITO SERIA O SEGUINTE REFORMAR TOTALMENTE TODA ESSA FROTA COLOCANDO ASSENTOS NOVOS,AR CONDICIONADO PROPORCIONANDO MAIOR VENTILAÇÃO JÁ QUE MUITO SE RECLAMAVA DE VENTILAÇÃO NESSA FROTA INSTALAÇÃO DE CAMERAS INTERNAS DE VIDEO VIGILANCIA E ITENS DE ACESSIBILIDADE TROCA TOTAL DE TODA MOTORIZAÇÃO COM A INSTALAÇÃO DE MOTORES MAIS MODERNOS E POTENTES EM CORRENTE ALTERNADA QUE SÃO MAIS ECONOMICOS E MAIS EFICIENTES DO QUE OS MOTORES DE CORRENTE CONTÍNUA ASSIM COMO A INSTALAÇÃO DE TODO O APARATO PARA ESSA NOVA MOTORIZAÇÃO COMO INVERSORES AUXILIARES E INVERSORES DE TRAÇÃO O QUE TRARIA MAIS AGILIDADE NAS ARRANCADAS MAIOR RETOMADA DE VELOCIDADE E MAIOR VELOCIDADE FINAL ALÉM DE É CLARO MODERNIZAR TODO O CONTROLE DE CONDUÇÃO DESSAS COMPOSIÇÕES POIS SE ISSO FOSSE REALMENTE FEITO ESSES TRENS PODERIAM SEREM INCREMENTADOS A FROTA JÁ EXISTENTES E DURAREM POR MAIS ALGUMAS DÉCADAS NOS TRILHOS PAULISTAS

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Paulo Farias16 de novembro de 2012 16:56
Prezado Diego Silva
Meus sinceros parabéns pela homenagem. Eu vivo em Carapicuíba desde meus primeiros meses de vida, 33 anos atrás. Cresci andando no 5000, ora indo para Jandira visitar minha tia, ora indo para Osasco, Barra Funda e Julio Prestes.
Já adolescente, utilizei esse trem para trabalhar em Jandira, durante doze anos. Nesse meio tempo fiz meu curso técnico em Leopoldina, e lá estava o 5000, pronto pra me levar.
Em 2010 entrei na CPTM e então pude conhecê-lo de verdade. Adquiri uma série de informações sobre seu funcionamento, mecânico, pneumático e elétrico. Choppers, alma, AVI, ATC, isolamento de truques e até aprender a tracioná-lo.
Um grande e incrível trem. Com certeza sentirei muitas saudades.
Nos últimos dias, temos manobrado essas unidades para linhas do pátios de Santa Terezinha, Carapicuíba, Universidade (Ceasa) e na famosa "Linha do Barranco" do Pátio de Altino. Foram pra lá, aguardarem seu fim, todos funcionando (quase) perfeitamente.
Hoje pela manhã ainda avistei no quadro de circulação 2 unidades e só. Nem o CCO o quer mais na operação.
Triste fim, grande trem, mas tudo nessa vida passa, um dia acaba.


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Um comentário:

  1. Este trem fez parte da minha historia, pois sofri um acidente onde cai de cima do trem entre a estação 21 e Quitaúna, indo trabalhar pela manhã.
    O imponente série 5000 apitava entre as estações Sagrado e Jandira às 06h30min, era o tempo de correr pelas ladeiras do Jd. Silveira para pega-lo as 06h40min na estação.
    Lembro do Samba que comia solto no ultimo vagão nos dias de sexta-feira....
    O lendário Série 5000 no meu ponto de vista foi sucateada em decorrência da incompetência administrativa do Governo do Estado e herdado posteriormente pela CPTM, pois há de convir comigo que o Sr. 5000 é muito melhor em todos os sentidos do que os trens que rodam na Zona leste e o sucatão espanhol que roda no ABC!

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