quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Levar trens até César é desafio

26/09/2012 - Abifer

Candidatos a prefeito de Mogi apresentam planos para levar os trens até César de Souza / Foto Arquivo

Por Júlia Guimaraes

O próximo prefeito de Mogi das Cruzes terá entre seus principais desafios a viabilização do projeto de extensão da Linha 11 - Coral, para levar os trens de passageiros até César de Souza. A reivindicação surgiu entre os moradores do Distrito no início da década de 1990 e, com o passar do tempo, ganhou apoios importantes das mais diversas entidades representativas da sociedade civil e dos cidadãos mogianos em geral. O movimento "Trem Até César, Já!" conta atualmente com um abaixo-assinado com mais de 30 mil nomes. Apesar do clamor popular, a única sinalização sobre a possível viabilização do projeto é a promessa do governador Geraldo Alckmin (PSDB) de que a expansão deverá ocorrer, naturalmente, após a implantação do Expresso Leste em tempo integral, prevista para 2014. Caberá ao futuro chefe do Executivo as tratativas para que efetivamente a ideia saia do papel.

A proposta de ampliação dos trens até César começou quando o Distrito contava apenas com 17 mil habitantes e tinha pouca expressão no cenário político-econômico. Passadas duas décadas, a região cresceu significativamente e ganhou um novo perfil. Atualmente, o local já acumula praticamente o dobro de moradores e é considerado pelo Poder Executivo, assim como por diversos setores da iniciativa privada, o principal vetor de desenvolvimento do Município. O Censo 2010, divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), revelou que César de Souza foi a região que mais cresceu em Mogi das Cruzes na última década, passando de 22.450 moradores em 2000, para 33.295 em 2010, em um aumento de 48%. Importante pesquisa divulgada em 2011 pelo Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp) mostrou que o Distrito gera cerca de 10 mil empregos diretos, em estabelecimentos industriais e comerciais.

A mobilização pela extensão dos trilhos teve de ultrapassar obstáculos importantes, sendo que encontrou barreiras até mesmo por parte do Poder Executivo Municipal. O ex-prefeito Manoel Bezerra de Melo, que governou Mogi entre 1994 e 1997, tratava o assunto com bastante cuidado por medo de que as reivindicações pudessem atrapalhar as negociações com a CPTM para abertura da passagem de nível nas proximidades do Mogi Shopping. Em 1998, o assunto voltou a provocar polêmica em razão do projeto apresentado pelo então prefeito Waldemar Costa Filho, de desativar a linha férrea para construção de uma avenida que ligaria Braz Cubas a César. A ideia não ganhou apoio popular e acabou sendo descartada.

Com o passar do tempo, por meio de amplo trabalho, o líder comunitário Adalberto Andrade, que lidera a luta na Cidade desde seu surgimento, conseguiu o apoio público da grande maioria dos vereadores mogianos e de alguns deputados do Alto Tietê. Em janeiro de 2011, a Câmara lançou oficialmente o movimento popular "Trem Até César Já!". Em junho daquele ano, após inúmeras mobilizações, o governador Geraldo Alckmin admitiu, pela primeira vez, que os trens poderão ser levados até César. "A vontade política existe. Primeiro vamos levar o Expresso, os trens de qualidade, até Suzano e, depois, a Mogi. Depois, é uma questão de verificar. O único problema é que será preciso compartilhar a linha com o transporte de carga", disse o governador na ocasião.

Poucos dias depois das declarações de Alckmin, o gerente de Transporte Ferroviário de Cargas da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), Marcus Expedito Felipe de Almeida, esteve na Assembleia Legislativa de São Paulo e, em entrevista a O Diário, afirmou que a União não se oporá ao compartilhamento da linha. O gerente geral de Concessão e Arrendamento da MRS, Sérgio Carrato, também declarou que a empresa concorda em autorizar a passagem dos trens da CPTM nos trilhos de concessão federal. Ambas as posições demonstram que não deverá haver entraves técnicos para ampliação da Linha. O grande desafio é, portanto, orçamentário. O novo prefeito precisará convencer o Estado a desenvolver o projeto e fazer o investimento. Consultados por O Diário, os candidatos que concorrem ao cargo se posicionaram de forma favorável à extensão dos trilhos.

Edgar Passos (PSTU)

"Defendemos intransigentemente a extensão dos trens até César de Souza, uma luta que é expressão da necessidade de se inverter a prioridade na matriz de transporte. A viabilização deste projeto exige a municipalização do transporte público. Desta forma, a Prefeitura pode estabelecer um convênio com a CPTM para transformar o trem no principal meio de transporte da Cidade. Sem a espoliação dos usuários exercida pelas atuais concessionárias, é possível reduzir a tarifa e subsidiá-la, estabelecendo uma tarifa social de R$ 1,00. Independentemente dos investimentos necessários, fica evidente que a não concretização deste projeto é resultado do total descompromisso de governantes que sequer utilizam o transporte público. Estas três medidas, expansão da operação dos trens até César de Souza, a integração gratuita entre CPTM e o transporte rodoviário e a redução da tarifa, são urgentemente necessárias e só serão possíveis com a municipalização do transporte, retirando- o das mãos das atuais concessionárias. Este processo exigirá mobilização dos trabalhadores em defesa de nossos direitos".

Fernando Muniz (PPS)

"Esta é uma reivindicação muito antiga e legítima dos moradores do Distrito de César de Souza e na minha gestão isso será atendido. Há muito tempo, havia alguns trens de subúrbio que vinham de São Paulo e seguiam até César de Souza, o que por si só mostra a viabilidade deste projeto que existe e sempre existiu. Houve um crescimento significativo da população do Distrito e o transporte coletivo, infelizmente, não evoluiu como deveria, por isso é evidente a necessidade de levar novamente o trem até César de Souza. Pretendo em minha administração tornar o projeto realidade, buscando os recursos com o Governo do Estado e o Governo Federal. Não podemos aceitar essa declaração do secretário de Transportes Metropolitanos, que só pretende criar empecilhos para a implantação do projeto. Esta mesma Secretaria já disse no passado que a vinda do Expresse Leste até Mogi era inviável, hoje vemos que o projeto se tornou realidade e beneficia diariamente milhares de mogianos. Vamos levar o trem até Cesar de Souza e atender, de forma eficaz, todos aqueles moradores".

Jorge Paz (PSOL)

"A expansão do transporte coletivo sobre trilhos é uma necessidade. Há muito tempo denunciamos que a opção pelo transporte individual e o abandono dos trens é um erro e traz consequências graves a longo prazo, como vemos na Capital. A expansão da linha é de responsabilidade do Governo Estadual, mas cabe à Prefeitura fazer gestão em busca de outras parcerias, com o Governo Federal por exemplo, que ajudem na viabilidade da proposta. Cabe à Prefeitura também estruturar o transporte urbano por meio das linhas de ônibus de maneira a integrá-lo ao sistema ferroviário. Propomos para a questão do transporte: 1) Implantação de bilhete único válido em todas as linhas, integrado com a CPTM ; 2) Integração real entre todas as linhas de ônibus (1 passagem - 1 viagem); 3) Estudo e fiscalização sobre as tarifas, visando reduzir o valor da passagem; 4) Obrigar as empresas a atenderem todas as linhas com número suficiente de ônibus; 5) Criar empresa pública que progressivamente assuma as linhas de ônibus do Município".

Marco Bertaiolli (PSD)

"A chegada dos trens até César de Souza é só uma questão de tempo. As melhorias que estão sendo implantadas no transporte ferroviário deixarão o sistema praticamente preparado para os trens chegarem a César. O primeiro passo é viabilizar as mudanças necessárias para o Expresso Leste chegar a Mogi em todos horários. Para isso, a CPTM irá construir uma nova estação ferroviária, integrada fisicamente ao Terminal Central. O prédio atual será demolido, dando lugar a uma passagem subterrânea, que eliminará as passagens de nível. A Estação Estudantes receberá uma ampla reforma e também será integrada fisicamente ao Terminal Estudantes. As obras começam no início de 2013. Também no ano que vem, a CPTM deverá reformar as estações Jundiapeba e Braz Cuba. Com estas melhorias, o mogiano poderá embarcar nos trens em Mogi e seguir direto para São Paulo, sem precisar fazer baldeação. Depois, com ajuda do governador Geraldo Alckmin, que já manifestou seu apoio a essa reivindicação da população, vamos levar o trem até César de Souza".

Marco Soares (PT)

"Apoio a luta pela extensão dos trens até César de Souza, porque é uma reivindicação legítima de um movimento popular. Segundo dados do Censo IBGE 2010, César foi o Distrito que teve o maior crescimento populacional na última década. Além disso, há vários empreendimentos imobiliários com obras em andamento, o que só reforça a necessidade da extensão nos próximos anos. O projeto atenderia a milhares de mogianos que precisam se deslocar até o local de trabalho, seja na Capital, no Centro de Mogi ou nas indústrias e comércio de César de Souza. Assim como atuei em defesa da Cidade na campanha contra o lixão - que também surgiu de um movimento popular -, ou à frente da OAB de Mogi, fazendo constantes negociações com autoridades, vou fazer uma forte gestão junto ao Governo do Estado para tirar o projeto do papel e executá-lo o mais breve possível. Vou oferecer todas as condições necessárias para a extensão, atuando inclusive junto ao governo Dilma. Meu compromisso é garantir a mobilidade urbana na Cidade".

Mário Berti (PCB)

"Com o crescimento demográfico de César de Souza, o Distrito está atrofiado no sentido da mobilidade. No meu Projeto de Governo, tenho a proposta de elevar os trilhos ferroviários em grau zero, a partir dos limites de Suzano até Sabaúna. No leito, onde estão assentados hoje os trilhos, construo uma ciclovia e uma veia verde (plantio de árvores e ajardinamento em toda a extensão), assim como uma via (mão dupla) exclusivamente para o trânsito de motocicletas. O caos do trânsito urbano levará os gestores públicos a pensar na primazia dos transportes públicos de massa ou no futuro bem próximo a Cidade vai travar. O funcionamento do trem entre Sabaúna e o limite de Mogi/Suzano será uma alternativa relevante na mobilidade da própria cidade de Mogi, quando sua população atingir os 800 mil habitantes, que neste momento parece distante, porém, antes dos 40 anos deste século, estaremos esbarrando nestes índices. Com os trilhos suspensos e a parte inferior liberada, os trens poderão circular com velocidade maior e com isso ganharão tempo no percurso entre as estações".



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